*Nelo Marraccini, presidente do Conselho Consultivo do Instituto Pet Brasil
O mercado pet brasileiro é um dos mais vibrantes e resilientes do mundo. Além de ser o sexto maior do planeta em termos de faturamento, registrou uma impressionante alta de 42,5% durante a pandemia, saltando de R$ 35,3 bilhões em 2019 para R$ 51,7 bilhões em 2021. No ano passado, o mercado cresceu 27%. Os números levam em conta os segmentos da indústria, serviços, venda de animais direto dos criadores e a rede de varejo em todo o Brasil.
Mesmo com os desafios impostos pela fase da pandemia, a perspectiva é que, daqui para o próximo ano, o setor continue a crescer na casa dos dois dígitos – a última projeção do IPB (Instituto Pet Brasil) aponta para alta do faturamento de 22% neste ano. Mas não há crescimento sem dificuldades. Há de se levar em conta o aumento do custo dos produtos, desde a indústria, por conta da alta do dólar e commodities. A guerra na Ucrânia também influencia na alta do preço dos produtos, pois o país europeu é um dos maiores produtores de milho, girassol e outros cereais que são matéria-prima da indústria pet.
Por isso, é normal recebermos o questionamento: como o mercado brasileiro consegue se manter tão relevante, e ainda por cima, registrando crescimento?
Um dos motivos é o amor, sem demagogia: os brasileiros têm uma relação muito próxima com seus pets e não deixam de cuidar deles, mesmo muitas vezes tendo de escolher produtos mais baratos. Os animais de estimação são parte da família. Conhecemos seus gostos e personalidades. Soma-se a isso o fato de que a cadeia de produção, abastecimento e venda de produtos para animais de estimação é ampla e capilarizada no país. E pôde permanecer aberta como setor essencial para os brasileiros durante os períodos mais críticos da Covid-19.
A quantidade de empresas do setor pet brasileiro ultrapassou 285 mil estabelecimentos em 2021. Seis em cada dez dessas empresas (178.669, ou 62,7%) são das cadeias de distribuição, ou seja, pontos de vendas como pet shops, consultórios e clínicas veterinárias, agrolojas e o varejo de alimentos. O restante dos estabelecimentos é composto por criadores (105.692 unidades, ou 37,8%) e indústrias (710 unidades, ou 0,2%).
São negócios como os pet shops pequenos e médios que continuam a ser o principal canal de acesso aos produtos, representando praticamente metade de todas as vendas do setor (48%). Em seguida, em termos de participação de mercado vêm as clínicas e hospitais veterinários (18%); agrolojas (9,8%); varejo alimentar (8,6%); pet shops de grande porte (8%); e-commerce (5,4%); e outros como clubes de serviço, lojas de conveniência, entre outros (2,1%).
Dentro desse universo, o e-commerce tem ganhado espaço. Isso indica uma mudança progressiva de hábitos das famílias que possuem pet em casa. Em 2021, esse canal de acesso representou apenas 5,4% das aquisições de produtos, mas cresceu isoladamente 48% em relação a 2020.
Censo Pet e Criador Legal
Tudo isso para oferecer amor e carinho para os mais de 149,6 milhões de pets no país. A estimativa mais recente do Instituto Pet Brasil aponta que possuímos 58,1 milhões de cães no país, seguidos de aves ornamentais (41 milhões) e gatos (27,1 milhões). Peixes ornamentais ocupam o quarto lugar (20,8 milhões) e répteis e pequenos mamíferos somam cerca de 2,5 milhões.
De 2020 para 2021 a população cresceu 3,6%. Destaque para os gatos, que, no período, registraram uma elevação de 6%, o maior crescimento entre as espécies. Os cães vieram em segundo lugar, com alta de 4%.
A preocupação com a qualidade de vida e saúde desses animais é constante no IPB. Periodicamente o instituto se destaca pelo levantamento que faz sobre animais em condição de vulnerabilidade (ACVs). A pesquisa aponta a situação de animais que vivem sob tutela das famílias classificadas abaixo da linha de pobreza, ou que vivem nas ruas, mas recebem cuidados de pessoas ao redor. Do total da população ACV, cães representam 69,4% (6,1 milhões), enquanto os gatos correspondem a 30,6% (2,7 milhões). Em 2018, cães eram 69% (2,69 milhões), enquanto os gatos correspondiam a 31% (1,21 milhão).
O Brasil possui hoje 184.960 animais abandonados ou resgatados por maus tratos, sob a tutela das ONGs e grupos de protetores. Dos mais de 184 mil animais tutelados, 177.562 (96%) são cães e 7.398 (4%) são gatos. Os abrigos de médio porte destacam-se por tutelar mais de 60 mil animais. Portanto, são responsáveis por mais de 40% da população de pets disponíveis para adoção. Os dados compilados são referentes a 2020.
Acompanhar o trabalho de acolhimento desses animais, e adoção, também é um compromisso adotado por diversas companhias do setor pet, em parceria com diversas ONGs presentes no país, cerca de 400 entidades de proteção animal.
Essa preocupação levou o IPB a criar um dos programas mais relevantes de cuidado animal do país: a campanha Criador Legal. Trata-se de uma iniciativa junto de outras entidades do setor. A ideia é defender o bem-estar dos animais de estimação, do nascimento à comercialização ou adoção, e a educação para a posse responsável de pets pelos proprietários e pelas famílias.
Por outro lado, reconhecemos que anualmente, nascem milhões de vidas em locais de criação legalizados, estabelecimentos que ajudam a educar as famílias em relação à posse responsável de pets. Dessa forma, a campanha é favorável às boas práticas nos cuidados com animais, tanto de raça quanto aqueles sem raça definida. Os maus-tratos nascem na ilegalidade do mercado paralelo.
Do Brasil para o mundo
As exportações são cada vez mais relevantes para o setor. De acordo com a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), entidade parceira voltada exclusivamente à indústria, de 2020 para 2021, a alta foi de 33%, impulsionada principalmente pelo pet food (95% dos negócios). Ao todo foram exportados US$ 412,5 milhões, ante os US$ 310,5 milhões de 2020.
Mas também acreditamos que, além de vender, nossas empresas precisam vender melhor. O Instituto Pet Brasil proporciona experiência internacional para companhias do país, por meio da participação de seus membros em eventos internacionais e rodadas de negócios, dentro do Projeto Setorial Pet Brasil, em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoções e Exportações e Investimentos), órgão do governo federal que atua para promover os produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira.
No caso da organização de pavilhões em feiras fora do Brasil, neste ano de 2022, o Projeto Setorial Pet Brasil levou/intermediou companhias brasileiras na Global Pet Expo, em Orlando (EUA); estivemos presencialmente na Interzoo (Alemanha); vamos ainda intermediar na Superzoo (agosto, nos EUA); e promover International Pet Meeting (novembro, no Brasil).
Já em relação a rodadas de negócios, promovemos uma rodada dupla em maio com empresas da Argentina, e neste ano o calendário ainda prevê negociações com Chile, Colômbia, Peru, China e Emirados Árabes.
O IPB também desenvolveu o PDI Pet, uma plataforma exclusiva, para auxiliar na competitividade das empresas brasileiras, deixando-as aptas para atender os públicos mais exigentes, seja no Brasil ou no exterior. Funciona em três pilares: capacitação, reciclagem e melhoria contínua. Os participantes têm acesso a dados de mercado, monitoramento de desempenho e orientações de marketing, por exemplo.
Tudo isso faz parte da missão do Instituto Pet Brasil, que nasceu em 2013 para estimular o desenvolvimento do setor pet. Acreditamos em um setor profissionalizado, que fortaleça a relação entre seres humanos e animais de estimação, que comprovadamente é benéfica para a saúde e o bem-estar de ambos.